sexta-feira, 18 de março de 2011

Hoje que a tarde é calma e o céu tranqüilo

    
Hoje que a tarde é calma e o céu tranqüilo,
E a noite chega sem que eu saiba bem,
Quero considerar-me e ver aquilo
Que sou, e o que sou o que  é que tem.
 
Olho por todo o meu passado e vejo
Que fui quem foi aquilo em torno meu,
Salvo o que o vago e incógnito desejo  
De ser eu mesmo de meu ser me deu.
 
Como a páginas  já relidas, vergo
Minha atenção sobre quem fui de mim,
E nada de verdade em mim albergo
Salvo uma ânsia sem princípio ou fim.
 
Como alguém distraído na viagem,
Segui por dois caminhos par a par
Fui com o mundo, parte da paisagem;
Comigo fui, sem ver nem recordar.
 
Chegado aqui, onde hoje estou, conheço
Que sou diverso no que informe estou.
No meu próprio caminho me atravesso.
Não conheço quem fui no que hoje sou.
 
Serei eu, porque nada é impossível,
Vários trazidos de outros mundos, e
No mesmo ponto espacial sensível
Que sou eu, sendo eu por estar aqui ?
 
Serei eu, porque todo o pensamento
Podendo conceber, bem pode ser,
Um dilatado e múrmuro momento,
De tempos-seres de quem sou o viver ?

Poesia lírica de Fernando Pessoa

Esta foi a primeira poesia de Fernando Pessoa que eu conheci, e ainda hoje é a minha favorita.

No poema de Fernando Pessoa o sujeito olha-se a si mesmo, tem de existir a memória que é o registro de momentos anteriores que permite saber que somos a mesma pessoa do dia anterior, de uma forma simples poderíamos dizer que memória é a aquisição, o armazenamento e a evocação de informações. 

A aquisição é também denominada de aprendizado. A evocação é também chamada recordação, lembrança, recuperação. A identidade também está presa á memória, e a experiência mostra-nos que o sujeito é instável.

O processo de mudança é continuo fisicamente e psiquicamente, pois o individuo nunca é igual a si próprio, está sempre num modo de desidentificação. O indivíduo é um lugar de felicidade, mas muitas vezes está num lugar de conflito e de desilusões constantes.






2 comentários:

  1. oiii prof adorei essa poesia mesmo a parte que eu mais gostei foi ´´Como a páginas já relidas, vergo
    Minha atenção sobre quem fui de mim,
    E nada de verdade em mim albergo
    Salvo uma ânsia sem princípio ou fim.

    Como alguém distraído na viagem,
    Segui por dois caminhos par a par
    Fui com o mundo, parte da paisagem;
    Comigo fui, sem ver nem recordar.´´

    gostei mesmo very good

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  2. oi professora eu nao consigo parar de ler essa poesia,e muito bonita.Congratulations!!!!!!

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